O citrus aurantium, ou Laranja Amarga é considerada um medicamento fitoterápico e suplemento dietético.
Medicamentos fitoterápicos, segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 26 de 13/05/2014 são todos os produtos obtidos a partir de matérias primas ativas em plantas.
Alguns desses medicamentos fitoterápicos têm sido utilizados em terapêuticas que visam perda de peso por conta de suas ações sobre a modulação de apetite, efeito termogênico – aumento do metabolismo e “queima de gorduras”- efeitos benéficos sobre gorduras no sangue e também ação antioxidante.
A variedade de matérias primas dos medicamentos fitoterápicos e suas diferentes características químicas e farmacológicas ainda estão sob investigação da ciência.
Nesse artigo, você vai descobrir o que sabemos sobre o uso da Laranja Amarga, na busca por emagrecimento.
A laranja amarga é também conhecida pelos nomes de laranjeira cavalo, laranjeira azeda ou laranjeira de Sevilha, e pertencente à família Rutaceae. Sua origem é asiática: historicamente a laranja amarga era utilizada na medicina tradicional chinesa.
Popularmente, a planta passou a ser utilizada em uma variedade de aplicações clínicas como medicamento ou suplemento dietético.
Suas folhas, flores, frutos e sementes têm sido usados na medicina popular como antiescorbútico, antiespasmódico, anti- hemorrágico, apetitivo, colagogo, cosmético, digestivo, febrífugo, hipnótico, sedativo, tônico e vermífugo.
A casca é a parte do fruto mais utilizada como fitoterápico devido suas propriedades funcionais e de sabor.
As folhas e os ramos produzem essências aromáticas e infusões sedativas, aconselhadas para pessoas nervosas.
As flores também apresentam, dentre outras ações, a sedativa e anti-espasmos.
Sua polpa é tônica e alcalinizante, o que torna favorável para pessoas com problemas hepáticos; porém existe recomendação de cautela na ingestão por alguns grupos de pessoas, como as que possuem diagnóstico de diabetes.
Existe um grande interesse por substâncias naturais que auxiliam na perda de peso.
No caso da laranja amarga, os resultados ainda são controversos.
Além das propriedades citadas anteriormente, o principal composto ativo da laranja amarga chama-se sinefrina.
A sinefrina, desde 1927, tem sido utilizada como um produto farmacêutico, especialmente por se tornar uma alternativa a outra substância que demonstrou ações prejudiciais ao sistema cardiovascular e foi proibida em suplementos alimentares.
A sinefrina apresenta ação estimulante com propriedades similares à cafeína, podendo agir sobre o aumento do metabolismo, do gasto energético e modulação do apetite.
Por isso, tem se atribuído à laranja amarga o efeito para promover emagrecimento.
Além desse composto isolado, outros compostos presentes na laranja amarga seriam responsáveis por seus efeitos sobre a taxa de metabolismo metabolismo basal e de “queima de gordura” corporal, como é o caso de compostos antioxidantes.
A presença de antioxidantes no extrato puro da laranja amarga pode contribuir para o processo de emagrecimento ao suprimir a formação de novas células de gordura e regular o estado inflamatório no organismo.
Considerando o emagrecimento como um processo complexo que envolve alterações da composição corporal, e não apenas do peso, os resultados com o uso do extrato de laranja que têm sido registrados em estudos, são modestos.
O que nutricionistas e especialistas em saúde compreendem é que se combinado a outras estratégias, como dieta equilibrada e exercício físico, a suplementação com extrato de laranja amarga poderia auxiliar na perda de peso – com a vantagem de não provocar efeitos adversos em curto prazo, como poderia ocorrer com o uso de medicações sintéticas.
Mas, infelizmente, são poucas as evidências, em humanos, que confirmam categoricamente sua ação benéfica sobre ingestão de alimentos, apetite e composição corporal.
As informações sobre o C. aurantium ainda são poucas, especialmente no que se refere aos possíveis efeitos sobre o sistema cardiovascular.
Apesar do teor de antioxidantes presentes no C. aurantium, normalmente relacionados com a prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, ainda há insegurança quanto a produtos que contém sinefrina, especialmente quando combinados a outros compostos como a cafeína, o que têm sido relacionado a efeitos negativos sobre a pressão arterial e a frequência cardíaca em seres humanos.
Em curto prazo e baixas doses, não há registros de toxicidade e efeito teratogênico (testes em animais).
Porém, faltam estudos que respondam sobre o uso desse suplemento a longo prazo.
Assim como alguns estudos negam efeitos adversos (em testes envolvendo animais), outros observam efeitos prejudiciais à saúde cardiovascular.
A parte, existem registros de denúncias ao órgão de fiscalização de drogas e alimentos americano (FDA) entre os anos de 2004 e 2009, associando efeitos adversos envolvendo produtos para a perda de peso contendo C. aurantium.
Dessa forma, a recomendação é muito controversa.
Questiona-se a qualidade dos suplementos utilizados, a forma de administração, a apresentação, a dose testada e combinação com outras substâncias. Sem estas respostas e reprodutibilidade dos estudos, é difícil fazer uma generalização dos resultados e recomendação.
No Brasil, o extrato da laranja amarga está presente em diferentes produtos dietéticos, suplementos alimentares e compostos manipulados em farmácias magistrais.
A associação do C. aurantium (sinefrina) em suplementos com outros compostos pode levar a efeitos adversos, por isso é muito importante que a prescrição desse produto seja realizada por profissional habilitado, seu nutricionista ou médico.
A laranja amarga tem sido alvo de estudos por conta de sua composição e possíveis efeitos benéficos sobre o processo de emagrecimento.
Apesar de ser uma matéria prima natural, é necessário cuidado com o uso de produtos da laranja amarga, isso porque a indicação de dose, tempo e forma de utilização ainda não estão bem esclarecidas.
São necessários mais estudos investigando seus benefícios e riscos para a saúde, inclusie a longo prazo.
Apesar do principal componente, a sinefrina, não demonstrar efeitos prejudiciais ao sistema cardiovascular em curto prazo e baixas doses, sua associação com outras substâncias como a cafeína geram insegurança.
Por isso, é importante que a indicação desse fitoterápico seja avaliado individualmente, junto de um(a) profissional capacitado(a), sem esquecer que é preciso incluir hábitos para um estilo de vida saudável, que inclui prática de atividade física e dieta balanceada.
Referencia: OLIVEIRA,TWN et al.Laranja Amarga (Citrus aurantium) no tratamento da obesidade.
RSC online, 2017; 6(1): p114-126.
Jessica Rasquim Araujo, nutricionista, CRN10 6617. Graduada pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, possui especialização em Saúde da Família e atualmente é mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua em atendimentos clínicos e na produção de conteúdo da área de nutrição. Redes sociais: Instagram: nutricionistajessicarasquim